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E aquele remedinho para o estômago?

O uso de remédios que bloqueiam funções normais do nosso corpo constitui uma parte importante da medicina contemporânea. Vale a pena discutir um pouco sobre um dos medicamentos mais utilizados no dia de hoje – os bloqueadores da bomba de prótons.
Hoje em dia é muito comum o uso de medicamentos para diminuir o ácido do estômago, seja para o tratamento de esofagites, gastrite e úlceras, seja para reduzir a agressão de diversos remédios ao estômago. Mas será que esses remédios são seguros?
A primeira coisa que temos que saber é que o ácido do estômago tem várias funções. A primeira função, mais conhecida, é a digestiva. A comida cai no estômago, parcialmente mastigada e embebida em saliva, e é submetida ao ácido do estômago e às enzimas digestivas. A absorção de diversos nutrientes está relacionada ao pH do estômago, em particular a vitamina B12, que vai ser menos absorvida se o estômago ficar menos ácido. O ácido do estômago também combate diversos microrganismos, e no caso de o estômago estar sob a ação de medicamentos que combatem a acidez, esses microrganismos vão para o intestino.
Como consequência, o uso crônico de remédios, cujo representante mais conhecido é o Omeprazol (os chamados de inibidores de bomba de prótons), pode levar a uma atrofia do estômago, a uma deficiência de vitamina B12 e à infecções intestinais (Raghunath AS, O’Morain C, McLoughlin RC. Review article: the long-term use of proton-pump inhibitors. Aliment Pharmacol Ther. 2005; 22 Suppl 1:55-63.)
Alguns estudos aumentam a preocupação quanto ao uso desses tipos de medicamentos. Um paciente com história de 20 anos de uso desses medicamentos acabou desenvolvendo um caso grave de atrofia e metaplasia do estômago (situação pré-cancerosa) que melhorou com a interrupção da medicação e com injeções de vitamina B12 (Chourasia D, Misra A, Pandey R, Ghoshal UC. Gastric atrophy and intestinal metaplasia in a patient on long-term proton pump inhibitor therapy. Trop Gastroenterol. 2008 Jul-Sep;29(3):172-4.) Outro estudo mostrou aumento de infecção por Clostridium dificile no intestino após o uso desses medicamentos (Dial S, Alrasadi K, Manoukian C, Huang A, Menzies D. Risk of Clostridium difficile diarrhea among hospital inpatients prescribed proton pump inhibitors:
cohort and case-control studies. CMAJ. 2004 Jul 6;171(1):33-8.)
Portanto, muito cuidado com medicamentos que inibem reações naturais do nosso organismo. A inibição de secreção ácida do estômago, algo que à primeira vista pode parecer inócuo, pode levar a complicações importantes. Em alguns casos pode haver uma indicação do uso contínuo desses remédios, mas sempre sob estrita supervisão médica. Frequentemente atendo em meu consultório muitos pacientes que simplesmente continuam tomando o medicamento prescrito por um médico alguns anos antes, porque se sentem melhor. Provavelmente uma parte dos problemas de saúde desses pacientes é consequência do abuso destes remédios.

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A Vitamina D e a Saúde

A deficiência de vitamina D é uma das maiores preocupações médicas na atualidade, com centenas de trabalhos científicos relacionando a falta de vitamina D (mais especificamente a 25-Hidroxi-vitamina D) com várias doenças, como osteoporose, câncer, doenças reumáticas e doenças cardiovasculares. Como a maior fonte de vitamina D é o sol, e a maioria das pessoas evita o sol com medo do envelhecimento precoce e do câncer de pele, enfrentamos o outro lado da moeda: a doença da “falta de sol”.  Vamos verificar as últimas pesquisas a respeito.

Baixa vitamina D no início da gravidez diminui a formação óssea do fêmur fetal, desde as 19 semanas de gestação. Mahon P, Harvey N, Crozier S, Inskip H, Robinson S, Arden N, Swaminathan R,Cooper C; The SWS Study Group, Godfrey K. Low Maternal Vitamin D Status and Fetal Bone Development: Cohort Study. J Bone Miner Res. 2009 Jul 6.

Suplementação de vitamina D não melhora de forma significativa a pressão arterial (metanálise). Witham MD, Nadir MA, Struthers AD. Effect of vitamin D on blood pressure’ a systematic review and meta-analysis. J Hypertens. 2009 Jul 7.

Revisão sobre os efeitos da baixa vitamina D nas doenças do coração: Judd SE, Tangpricha V. Vitamin D deficiency and risk for cardiovascular disease. Am J Med Sci. 2009 Jul;338(1):40-4.

Outra revisão sobre os efeitos da baixa vitamina D nas doenças do coração: Gouni-Berthold I, Krone W, Berthold HK. Vitamin d and cardiovascular disease. Curr Vasc Pharmacol. 2009 Jul;7(3):414-22.

Uso da vitamina D para prevenção e tratamento do câncer de pâncreas: Chiang KC, Chen TC. Vitamin D for the prevention and treatment of pancreatic cancer. World J Gastroenterol. 2009 Jul 21;15(27):3349-54.

A suplementação de vitamina D pode melhorar os sintomas da depressão: Shipowick CD, Moore CB, Corbett C, Bindler R. Vitamin D and depressive symptoms in women during the winter: a pilot study. Appl Nurs Res. 2009 Aug;22(3):221-5.

Relação entre a diminuição da vitamina D e a cefaléia (dor de cabeça) tensional: Prakash S, Shah ND. Chronic Tension-Type Headache With Vitamin D Deficiency: Casual or Causal Association? Headache. 2009 Jul 8.

Esses foram alguns artigos publicados em Julho de 2009. Podemos concluir que o médico, atualmente, não pode negligenciar a evidência de que a falta de vitamina D está associada às doenças. Apesar desse alarmante, não são muitos os médicos que prestam atenção ao assunto. Também, em um país tropical, o “remédio” principal pode ser “grátis”: é só tomar sol. E talvez várias doenças possam ser evitadas com um pouco de sol desde a infância.